Biblioteca.

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A ida ao supermercado com Hanna foi bem tranquila. Não conversamos sobre o baile, e quando tocávamos no assunto usávamos uma discrição inigualável, ninguém percebeu quando, de forma implícita, contei a vampira que suspeitava ter sido hipnotizada por um vampiro para atear fogo nas cortinas. Hanna ficou surpresa com minha revelação, mas não compreendia como a verbena não causara o efeito que deveria. Eu também estava intrigada com aquela questão sem resposta. Aproveitei que a vampira escolhia alguns itens e os colocava no carrinho, fui escolhendo comidas que jamais seriam servidas na pensão, como cereal de qualidade, biscoitos de chocolate, geleia de amendoim e pão integral. Pagamos no caixa e quando me ofereci para ajudar Hanna com suas muitas sacolas, a mesma recusou. É claro que recusaria, vampiros são fortes, mas disfarçar é sempre uma medida cautelosa. – Os problemas sempre me rondaram também, desde pequena. E parece que vão crescendo conforme os anos passam. – Ri baixo após seu comentário. Era um fato, qualquer pessoa com presas, sedenta por sangue, com poderes especiais ou até mesmo que sofresse transformações na lua cheia seria cheia de problemas. O maior deles, em minha opinião, é se esconder, mostrar a todos algo que você não é, ou simplesmente não poder se abrir totalmente. Lembrava-me perfeitamente de como eu me sentia deslocada no abrigo, as outras crianças rindo constantemente da minha esquisitice, isolando-me por ser diferente. Suspirei, apertando o braço direito ao redor da sacola quando Hanna falou com pressa, pedindo apenas para eu me cuidar. – Ta... eu acho – Franzi o cenho, virando o rosto na direção em que a vampira começou a caminhar apressadamente. – Depois eu sou esquisita! – Falei baixo, sentindo-me louca por estar voltando a falar sozinha.

Não estava nem um pouco a fim de ficar na pensão, mas precisava voltar para guardar as compras e também queria pegar algumas coisas. Assim que entrei em meu quarto, tranquei a porta e guardei a comida no minifreezer. – Quod non videant oculis invidia non attingit – Sussurrei rapidamente, encantando o a comida, caso algum enxerido resolvesse assaltar meu freezer. Retirei a touca que estava usando e também a blusa de mangas compridas, trocando-a por uma mais fresca. Peguei a bolsa que estava sobre a cama e enfiei rapidamente o celular, os óculos de sol, meu diário e um fraquinho pequeno que continha verbena líquida. Tratei de enfiar o medalhão de dragão para dentro da blusa, desejando apenas evitar olhares para minha joia e novamente, estava saindo da pensão às pressas. Odiava aquele lugar mais do que tudo, meu quarto era onde eu me sentia mais confortável, porém fora dele eu sentia que estava num inferno.

Não havia muitos lugares que eu desejasse ir. Pensei em voltar ao Grill e falar com Eva, mas, muito provavelmente, ela já teria se retirado. Procurar Hanna, ou Henri e até mesmo William. Não gostava de me sentir fora do ar, e estava. Aumentei a velocidade dos passos, e após algum tempo caminhando avistei a biblioteca da cidade. Um sorriso maravilha estampou meu rosto, quase brilhante e muito ridículo. Mas, era inegável que eu estava aliviada e feliz por ter encontrado um lugar tranquilo, longe de olhares de reprovação. Se minha mente fosse ocupada com leitura, talvez eu parasse de me preocupar com Eva e com Hanna, e com o humano Will também. Nenhum deles era da minha conta, já estava mais do que na hora de esquecer e me afastar. A diferença entre a temperatura dentro e fora da biblioteca era gritante, o ar condicionado refrescava tudo, estava muito agradável e resolvi que seria ali onde eu passaria o resto da minha tarde. Após fazer minha ficha na biblioteca, a senhora que estava atrás do balcão disse que eu podia ficar a vontade, e foi o que fiz. Vasculhei as estantes como uma louca, maravilhada com os exemplares que estavam enterrados ali, primeiras edições de livros que eu adorava, biografias difíceis de serem encontradas em livrarias, enfim, meu paraíso pessoal.


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